quinta-feira, 28 de agosto de 2008

- TRAUMAS DE UMA INFÂNCIA FELIZ


Hoje acordei nostálgica, e resolvi dividir meus agouros do passado. Tive uma infância feliz, com tudo que precisava e ainda mais, mas quem não tem traumas? Sempre que conto meus traumas de infância minha mãe morre de rir. Ao invés de pensar: “ah, coitadinha da minha filha”... Nada, ela se esbalda. Vá lá, também não é nada sério. Nada sério hoje, né?! Já na época...

Dentre os que eu me lembro, um deles começou a partir de um filme do lobisomem que assisti furtivamente espiando a TV no quarto dos meus pais. Eu era bem pequena, e para meu azar a partir de então descer na cozinha a noite para beber um copo de água passou a ser um suplício. O lobisomem estava sempre lá, me esperando, claro. Junto com o diabo que aparecia no meio da escada, onde se abria um degrau mostrando um monte de fogo lá no fundo, e a múmia, que ficava na saletinha do canto e vinha correndo atrás de mim quando eu chegava no térreo. O lobisomem, tadinho, era o mais inofensivo, no final das contas, pois só fazia uma sombra na porta de entrada da casa. Daí lá ia eu, descendo a escada a toda, pulando o degrau do diabo e correndo de volta pra múmia não me alcançar. Uma verdadeira maratona.

E a música da Pantera cor-de-rosa? Isso também ainda bem novinha. Eu tinha pavor. Tanã tanã tanã... Pronto, eu saía correndo e me trancava no quarto. Tinha a impressão que alguém vinha me pegar, não lembro bem o que se passava na minha cabeça. E meus irmãos, muitos legais e simpáticos na época, só esperavam meus pais saírem para colocar o LP da pantera na vitrolinha. Tortura total pra mim e diversão certa pra eles!

Outra que meus pais me aprontaram foi num Natal. Era propaganda da Caloi toda hora na TV. Não esqueça a minha Caloi. E bilhetinhos em todos os cantos da casa. E então chegou a noite feliz: à meia-noite descemos já de olho na árvore, e lá estavam as bicicletas. Três. Duas maiores para os meus irmãos, e uma menorzinha para mim. Abrimos os embrulhos felizes, já querendo pedalar, quando eu ouço um berro da minha irmã: “Minha bicicleeeeeta!” Apontando pra minha novinha, azulzinha. É. Era a velha bicicleta dela mesmo, que meus pais reformaram, pintaram, até colaram novos adesivos e me deram como nova. Que maldade!

Já um pouco mais velha, na escola, o que me apavorava era a festa junina. Não que eu não gostasse, era bacana. Mas todos os alunos tinham que levar um doce, ou salgado, algo para a festinha. Minha mãe, nada prendada, mandava todo santo ano um saco enorme de pipoca. Eu reclamava, queria levar algo bonito, gostoso. “Leva pipoca, minha filha. Todo mundo adora.” E eu, morta de vergonha, ano após ano, com aquele sacão de pipoca embaixo do braço, frente aos bolos de fubá, aipim, pé de moleque, canjica... ai, que vergonha.

Daí tinha a roupa. Tinha que ir caracterizada. Como eu tinha irmãos mais velhos, minha mãe cismou que eu tinha que ser descolada. Pra que comprar vestido? Vai de calça jeans e camisa quadriculada, sua irmã vai assim, fulana, beltrana – só que todas tinham uns três anos a mais que eu, e já nem ligavam pra isso. Mas eu não. “Mãe, tem que ir de vestido! De calça é homem!”, mas aos 7 anos, quem te ouve? Os pais fazem o que bem entendem. E lá ia eu vestida de HOMEM!

Depois veio a fase de brincadeiras na rua. Pique-bandeira, pique-pega, pique-alto... adorava! Já o pique-esconde... um sofrimento! Toda vez que me escondia surgia uma súbita vontade de fazer xixi, eu ficava lá me contorcendo até finalmente me deixar ser encontrada rápido. A vontade era maior. Até hoje não entendo essa relação do pique-esconde com vontade de fazer xixi. Sinistro. Também nunca mais brinquei pra ver se a vontade persiste.

De volta a escola. Sempre me dei bem com todos, era comunicativa, metidinha, descolada e tal. Sem problemas. Mas tinham umas seis Danis na minha sala, Daniela, Danielle, Danyela... Então sobrepunham os sobrenomes. O meu: Uzeda. Um prato cheio, né? Azeda pra cá e pra lá. Eu morria de raiva. Aí, um belo dia resolvi acabar com o problema e usar meu nome do meio: Pinheiro. O que hoje em dia eu acho horrível, mas fui Pinheiro por muito tempo. Tinha até uma musiquinha pra mim, do Ultraje a Rigor: Dinheeeiro. Dinheeeiro. Lembram? Minha música da época do ginásio: Pinheeeeiro, Pinheeeiro. Feiooo.

Os anos foram passando, a adolescência chegando, juventude, a idade...e os traumas deixados para trás. Hoje adoro meu sobrenome, festa junina, filmes de terror. Sem maiores frustrações nem seqüelas. O único trauma que prevaleceu foi detestar pés. Quando eu brigava com meu irmão ele vinha esfregar aquele pé enorme e feio na minha cara, às vezes só de pura implicância. O segundo dedo dele, ao lado do dedão, parecia o dedo do ET. Era comprido e todo torto. Só faltava falar E.T. phone home. Nojento. Mas aí, quem também não ficaria traumatizado? Eca!


* Foto minha com 5 anos. Não tenho foto melhor, porque minha mãe sempre me diz: “Nesta época a moda era slide. Por isso você não tem álbuns com fotos de neném, nem criança, só slides”. Tá bom! Falar o que? Minha irmã tinha álbum, meu irmão também. Mas tudo bem, junto o fato a minha coleção de frustrações. Hehehe.

6 comentários:

Anônimo disse...

(Que lindinha!)

Olha, sobre essa frustração de irmã mais velha ter mais álbum eu não vou nem falar, hohoho.

Hoje pago pela língua porque, nesses tempos de foto digital, o álbum grande da Ana só tem umas 6 páginas de fotos montadas até hoje. Daqui a alguns anos, quando a mídia for outra e cd nem rodar mais nas máquinas, vou me pegar falando:

- Minha filha, na sua época era tudo no cd.

Ai, ai....

Dani Uzeda disse...

Vai deixar sua filha com trauma por não ter nenhuma fotinho qdo criança!! Vai vendo... hehe.

Miss Thick disse...

HAHAHAHAHAHAHA
Adoirei esse post, Dani!
Pára tudo que acho que sou a única que ocntinuo com meus traumas...
Vide meu medo de escuro com 24 anos na cara! :D

Na boa, a bicicleta foi foda! rs

Beijos querida!

Anônimo disse...

Vc sabe que nunca me esqueci desse seu trama da bicicleta que vc já tinha me contado e até contei ele para uma amiga aqui do trabalho essa semana. Mal do 3º filho. Pois é, fiz dvd com filmes e fotos da Bia nos dois primeiros anos de vida, do Rodrigo ainda nem comecei. E parei de fazer também os dela. Ai ! Ai ! Temos que nos esforçar para não criar traumas,mas como fazê-lo ????

Anônimo disse...

Eu te conheci com essa idade !!! Nossa !

Dani Uzeda disse...

velhinhas...