domingo, 5 de outubro de 2008

- UM OLHAR PARA O ORIENTE


Glória Perez resolveu fazer a próxima novela das oito sobre a Índia. Parece que descobriu a pólvora. Fala da cultura indiana como se fosse Cristóvão Colombo em terras novas. Isso porque a maldita novela ainda nem começou. Chata!

Sempre tive fascinação pela Índia. De um lado maravilhas arquitetônicas, arqueológicas e antropológicas, de outro miséria e pobreza em formas desumanas e inimagináveis.

A civilização indiana é uma das mais antigas do mundo e possui mais de um bilhão de habitantes. Muita gente! Só perde para a China. Língua, casta e religião desempenham papel importante na organização social e política deste país. Um respeito às tradições fora dos padrões conhecidos por nós ocidentais.

Em 1995 li um livro pela faculdade chamado: Na pele de um intocável. Amei! O livro conta a história verídica de um jornalista francês, Marc Boulet, que vive durante seis meses na Índia como um intocável, um pária da sociedade indiana.

Lá funciona assim: originalmente existem quatro castas fundamentais. Os religiosos e nobres (Brâmanes), os guerreiros (xárias), os camponeses e comerciantes (vaixias) e os escravos (sudras). Hoje, já se subdividem em várias outras castas. Mas os párias (dalits), não pertencem a nenhuma delas. Eles estão à margem do sistema e são conhecidos como intocáveis, pois realmente não podem ser tocados ou tocar alimentos, roupas ou nada que vá “contaminar” as outras castas. A eles sobram os serviços ditos impuros como cuidar dos mortos e limpar latrinas. São tipo o mosquito do cocô do cavalo do bandido.

O pior do sistema de castas é que ele é hereditário. Não tem como escapar. Não pode haver aspiração ao crescimento, seja profissional, social ou mesmo espiritual, porque ele nunca ocorrerá. Nasceu assim, vai morrer assim. Seja bom ou ruim. E apesar da discriminação em função das castas, hoje, ser proibida pela constituição indiana, o sistema continua sendo praticado por mais de 80% da população do país. Uma loucura!

Pois é, o tal francês abdicou de tudo e foi viver na Índia como intocável. Relatos chocantes, onde sistema de casta é levado à máxima regra, impressionam. Desde então minha curiosidade pela Índia só aumentou.

Então em 2001 assisti ao filme Casamento à indiana. Espetacular. Alegre, colorido e festivo o filme mostra um outro lado da Índia. As tradições e religião são traços marcantes, porém mostrados com humor e leveza.

Depois deste filme lá fui eu novamente me embrenhar pela cultura indiana. Vocês sabiam que uma das atividades mais desenvolvidas na Índia é a indústria cinematográfica? Bollywood (trocadilho por ser sediada em Bombaim) é a maior produtora de filmes do mundo, superando o número de produções hollywoodianas. São em média de 800 filmes produzidos por ano! Os filmes têm muita música e dança e eu achei a maioria que assisti cômica e tosca. Mas o que é cômico para mim, não é para eles. A média semanal de público chega a 150 milhões de espectadores! E o cinema brasileiro aqui minguando e comemorando o pequenino crescimento. Tadinho, vejam só.

Mais tarde fui contratada para prestar assessoria de imprensa para um restaurante indiano. Hummm. Para escrever releases e colocar a criatividade em prática fiz muita pesquisa sobre a culinária e mais uma vez sobre os costumes do país. Com dicas da proprietária indiana, e com embasamento histórico, foi um período de ótimo aprendizado.

Aprendi, entre outras coisas, que o famoso curry na verdade nem existe na Índia. Ou melhor, existe, mas com outro nome. O nosso conhecido curry em pó, por lá, chama-se marsala, que é uma combinação de especiarias. O tempero pode reunir mais de trinta ingredientes diferentes, sendo cúrcuma um deles, e o responsável pela cor amarela característica.

Não se encontra na Índia referências a uma especiaria ou mistura com o nome de curry. Lá, curry é o nome que se dá a ensopados: cozidos de legumes, frango ou peixe em molho picante de especiarias. Sacou?

Eu estou sempre em busca de documentários ou livros que me dêem oportunidade de explorar cada vez mais esta cultura: a religião, os zilhões de Deuses, o Taj Mahal, os macacos e vacas que circulam livremente pelas ruas, templos de adoração absurdas onde ratos comem com os fiéis... tudo me fascina. Na minha casa tenho clara influência indiana na decoração. No meu trabalho sempre que aparece um hóspede inglês de origem indiana, puxo papo e quero saber tuuuudo. Até site de hits musicais indianos eu já consegui pegar.

Mas agora Glória Perez parece ter descoberto a Índia, e a Globo também. Ainda não sei se isso é bom ou ruim. Sou antinovelas, e acho um verdadeiro desperdício de tempo. Talvez seja válida a idéia de voltar os olhos dos telespectadores brasileiros para uma outra cultura. Pena que será de forma exaustiva e acredito que caricata. Daqui uns meses só se falará sobre a Índia, todo mundo vai almejar saris belíssimos e coloridos, e logo aparecerá um bordão irritante como aquele Ishalá importado de Marrocos direto para a boca dos mais chatos noveleiros.

Tony Ramos foi pra Índia. Juliana Paes também. Cléo Pires diz que vai pagar do próprio bolso e também vai. Ahhh... ano que vem EU também pretendo ir (era pra ter sido este ano, mas não deu por N motivos). Mas só quero ver o quanto esta novela vai inflacionar os pacotes turísticos, já caríssimos. Saco.

Ps. Recentemente li que está havendo uma conversão em massa para o budismo ou cristianismo por parte dos Dalits (intocáveis) como forma de fugir da discriminação hinduísta de castas. Ótima idéia. Desejo sorte à eles! Adorei!

PS2. As vezes temo em ser muito didática ao abordar alguns assuntos, e passar muitas informações. Mas depois, vocês noveleiras, vão me agradecer. Quando começarem a explicar que o Márcio Garcia é um "intocável", vocês vão dizer: eu já sabia, a Dani me contou! rsrs

Vejam abaixo vídeo óóótimo, com o SAYID do LOST cantando e dançando. Isso é Bollywood!


Nenhum comentário: